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O biourbanismo

O biourbanismo é uma forma de enxergar o desenvolvimento das cidades como um organismo vivo. No início do século 20, já se comparava a cidade a um organismo, mas como se fosse e funcionasse como uma máquina. Essa visão era totalmente diferente da forma como hoje esse assunto é abordado. Agora, sabemos que não existe linearidade quando se fala de um organismo vivo como a cidade.

O modelo biológico também pode ser associado ao urbanismo, quando imaginamos o corpo humano e seu comportamento biológico em razão de sua interação com a organização espacial da cidade. Ou seja, como a pressão sanguínea, a mente e, de forma geral, o corpo das pessoas reagem em relação a determinados modelos urbanísticos.

Investigar como os modelos urbanísticos interagem e interferem na biologia dos seres humanos e usar esses resultados para planejar as cidades é, portanto, o objetivo do biourbanismo. Fica cada vez mais claro que os organismos vivos compartilham com os edifícios e as cidades os mesmos modelos e as mesmas regras que governam os sistemas hierárquicos mais complexos. Embasados nesses conceitos, os planejadores urbanos poderão, em um futuro próximo, planejar sistemas urbanos realmente sustentáveis.

O planejamento biourbanístico parte do principio de que não é possível construir um espaço urbano se não forem consideradas, além da vida econômica e social, também a interação das cidades com a vida biológica.

A abordagem científica do biourbanismo pode promover a integração das cidades com sistemas científicos como biologia, ecologia, estatística, termodinâmica etc. As similaridades evidenciam-se não somente na metodologia comum, mas no conteúdo dos resultados, pois a cidade representa um ambiente vivo para abrigar espécies humanas.

Esse modelo possibilita a identificação de processos que possam garantir uma eficiência sistêmica no planejamento dos padrões de qualidade de vida dos habitantes das cidades, além de abrir espaço para fascinantes cenários de pesquisa nessa área.

Como as cidades representam um ambiente vivo para os seres humanos, é fundamental conceber modelos de planejamento que criem estruturas urbanas adequadas às nossas necessidades biológicas e neurofisiológicas.

Não é mais possível pensar em planejamento urbano simplesmente como uma visão aérea do espaço geográfico. É necessário enfatizar, também, a análise do tecido urbano com os princípios orientados para a saúde humana, em micro e macroescalas. A ideia é criar ambientes urbanos que reflitam a inerente afinidade humana pela natureza e possam, ao mesmo tempo, nutrir nossos sistemas biológicos, psicológicos e fisiológicos.

Dentre as inúmeras possibilidades da aplicação prática dessa teoria estão, por exemplo, a criação de jardins e outros espaços urbanos que concentrem um amplo espectro de experiências sensoriais; a implantação de modelos que ajustem o microclima nas diversas regiões da cidade; a preocupação com a acústica; e a utilização de sons como parte do espaço urbano. Além disso, os seres humanos são predispostos a sentirem-se mais confortáveis no entorno de certos tipos de formas geométricas.

A natureza, o corpo humano e a sensitividade são importantes para que todos entrem em contato com a realidade e, a partir disso, seja possível construir uma realidade que junte a cidade e os seus habitantes.

As cidades não são somente espaços para abrigar pessoas. Elas são, principalmente, locais para conectá-las e proporcionar bem-estar. Nesse aspecto, o biourbanismo pode vir a ser uma importante ferramenta para ajudar os planejadores a projetarem espaços urbanos e cidades mais confortáveis, física e emocionalmente, a fim de transformar a vida urbana das gerações futuras.

Por Claudio Bernardes, Presidente do Secovi-SP

Fonte: Folha de S. Paulo, Opinião via CTE

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