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Crise hídrica x Saneamento básico

Recentemente, a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) afirmou que postergará parte dos investimentos em saneamento básico. Esse anúncio é um verdadeiro motivo de atenção. Com a crise hídrica, a empresa iniciou um programa de incentivos financeiros para que as indústrias e os cidadãos economizem água. Uma das consequências dessa iniciativa, que é tardia e correta, foi a necessidade da empresa ajustar seus projetos e prioridades.

Uma das principais causas da mortalidade infantil é a falta de um sistema de coleta, tratamento e disposição adequados de esgoto. Ou seja, deixar de investir em melhorias no saneamento básico pode impactar direta e negativamente na saúde e na vida de muitas pessoas. Conclusão: a sociedade, que deve estar sempre em primeiro plano, terá a melhoria dos problemas de saneamento básico e tratamento de esgoto novamente postergada.

De acordo com levantamento global da Unicef e da World Health Organization (OMS), há avanços no acesso da população a água potável, no entanto, no que diz respeito a saneamento básico, a falta de progressos compromete os benefícios do acesso à água potável. Um terço da população mundial - cerca de 2,4 bilhões de pessoas - não tem acesso a instalações sanitárias, o que compromete as melhorias da saúde das pessoas e nas regiões afetadas.

Nota-se, portanto, que a relação entre saneamento básico e saúde pública é direta. Estudos mostram que a cada dólar investido em saneamento básico, economiza-se de cinco a oito dólares em saúde pública. E ainda não estão computadas as perdas decorrentes do enorme sofrimento infligido às famílias que perdem as suas crianças. Como monetizar esse tipo de prejuízo?

É inaceitável que um estado como São Paulo ainda não tenha 100% dos seus esgotos coletados e tratados. Isso só acontece porque as autoridades responsáveis não determinam como prioritários os investimentos públicos neste assunto tão importante. De acordo com o Ranking do Saneamento Básico do Instituto Trata Brasil, publicado em parceria com a Go Associados e que avalia os serviços de água e esgoto dos 100 maiores municípios do País, a cidade de São Paulo aparece na 34ª posição,  com 51,5% de seu esgoto tratado. Essa responsabilidade é compartilhada pela sociedade civil organizada, que não tem sido capaz de influenciar na forma como o orçamento do estado é decidido. Em outras palavras, falta o exercício de “advocacy”.

A sociedade paulista tem quadros nos setores público e privado para desenhar um modelo mais adequado para uma empresa, que tem como responsabilidade fundamental cuidar da saúde pública de parte importante dos municípios paulistas.

É importante destacar que a responsabilidade sobre essa situação que vivemos não é exclusivamente de um só órgão. Outros departamentos federais, estaduais e municipais como a ANA (Agência Nacional de Águas), a ARSESP (Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo), o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) também têm responsabilidade sobre as consequências da crise hídrica para a sociedade.

É muito importante que a sociedade civil organizada se envolva nesse debate e que juntos possamos decidir qual é o modelo de gestão de recursos hídricos que melhor pode atender a nossa sociedade hoje, amanhã e sempre.

Por Aron Zylberman, professor de ética empresarial e sustentabilidade

Fonte: O Estado de S. Paulo, Coluna Fiabci-Brasil, 21/07/2015

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