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No Centro do Rio de Janeiro, a diversidade dá o tom

Passear pelo Centro do Rio é como reviver um passado descrito em livros e jornais de outros séculos. Foi como se sentiu a estudante paulista de arquitetura e urbanismo Priscilla Velasques, de 29 anos, que ficou encantada com a riqueza arquitetônica encontrada na região, que já foi cenário de algumas das principais mudanças ocorridas no país, principalmente quando a cidade ainda era capital.

- É uma aula fora das salas. Já experimentou olhar para cima? Os prédios cobrem as calçadas com suas sombras, como um paredão, formando um imponente túnel - descreve a estudante, que incluiu em seu roteiro uma visita à Avenida Presidente Vargas, inaugurada em 7 de setembro de 1944. - Sem falar na Central do Brasil, exemplo belo de arquitetura art déco.

Aos 450 anos, o Rio de Janeiro já passou por várias transformações urbanas desde sua fundação. E o Centro é o maior exemplo disso, especialmente por sua arquitetura diversificada, que mistura estilos e preserva a história da cidade. Para mostrar as influências que predominam num dos bairros mais importantes da capital fluminense, especialistas fazem um panorama da área que sempre se reinventa, destacando as inspirações francesas e portuguesas.

No início do Século XIX, com a chegada da Missão Francesa e com o advento do ecletismo, as ruas do Centro passaram por mudanças e perderam, aos poucos, o estilo colonial remanescente da cultura portuguesa que prevalecia na região.

- A cara do Centro é o resultado dessa série de reformas que os próprios proprietários dos edifícios fizeram para, na época, adaptar as edificações às tendências arquitetônicas - explica Carlos Fernando Andrade, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ e conselheiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ).

Exemplos do estilo eclético do fim do Século XIX, segundo Andrade, foram incluídos no projeto Corredor Cultural do Rio, iniciado em 1979, pela prefeitura, para preservar a área que inclui as regiões da Lapa, Cinelândia, Largo da Carioca, Largo de São Francisco e Saara. Com a abertura da Avenida Mem de Sá, no início do Século XX, prédios mais "exagerados", mas também em estilo eclético, deram um novo aspecto ao local.

- A Rua do Ouvidor, por exemplo, é um local mais descontraído e é do Século XIX. Já a esquina da Mem de Sá com a Rua do Lavradio, do início do Século XX, é uma outra composição do estilo eclético, que predomina do Centro do Rio - destaca Andrade, lembrando que foi na década de 1930 que surgiram o concreto armado e os prédios com elevadores, que deram uma nova aparência à região.

UMA AVENIDA COM SOTAQUE FRANCÊS
Inspirada nas construções parisienses, a Avenida Rio Branco, inaugurada ao final do governo de Pereira Passos, em 1906, foi aberta como um grande boulevard, com novos prédios, de fachadas diferentes. Inicialmente chamada de Avenida Central, é na via que estão relíquias arquitetônicas como as construções que abrigam a Biblioteca Nacional e a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), antiga Companhia Doca de Santos.

- Em poucos quilômetros quadrados, o Centro do Rio tem uma diversidade arquitetônica incrível. Temos exemplares desde o século XVI, como o Mosteiro de São Bento, até o XXI. É uma das poucas cidades no mundo que têm tantas mudanças assim - acredita o geógrafo João Baptista Ferreira de Mello, que há mais de duas décadas conta a história da região por meio do projeto "Roteiros geográficos do Rio".

Outro fruto de inspiração francesa na Avenida Rio Branco que Mello faz questão de destacar é o Teatro Municipal. Inaugurado em 1909, foi restaurado um século depois, recuperando sua pompa arquitetônica.

- Em seu exterior, beleza e brilho. O prédio tornou-se um dos xodós dos fotógrafos e tem sido foco de selfies de turistas de todo o mundo. Seu interior, que pode ser conhecido em visitas guiadas, é palco de óperas, concertos sinfônicos e recitais. É um belíssimo exemplar no Centro carioca - considera Mello.

Fonte: O Globo, Morar Bem, 08/11/2015

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