Sep
09
Construir sem destruir é o desafio
Fonte: Diário do Nordeste
As discussões sobre a expansão da infraestrutura e meio ambiente sempre são polêmicas. De um lado, a Cidade que precisa de novas vias, água, energia, esgoto, habitação, necessidades básicas de qualquer metrópole. Do outro, ambientalistas que reconhecem estas exigências, mas gritam que as melhorias não podem e não devem prejudicar o ecossistema. Construir e crescer sem destruir, eis a questão. Qual é a Fortaleza que queremos ter?
A arquiteta e urbanista Mariana Reynaldo afirma que esse debate deve ter a participação igual de todas as camadas da população. "A Cidade é um espaço coletivo e todos devem acompanhar o processo de urbanização, analisando e avaliando os prós e contras. Por enquanto, isso ainda é utopia", afirma.
Até porque, aponta ela, a falta desse planejamento urbano construído pela coletividade é responsável por uma cidade dividida e com um crescimento muito desordenado. "Para começar a reverter essa situação enquanto há tempo, é preciso repensar qual o tipo de desenvolvimento que queremos", frisa.
Na visão do professor do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) José Borzacchiello, em Fortaleza, a força de comando do crescimento urbano está nas mãos do mercado. As regras são escritas, mas não são seguidas com rigor. A gestão oficial não dá conta de acompanhar a dinâmica imposta pelo setor imobiliário. "Vivemos um momento de crédito imobiliário fácil, como o Minha Casa Minha Vida, e pouca terra livre na cidade - é o fim do estoque de terra. Daí, o acentuado processo de verticalização e transferência dos investimentos para os municípios da região metropolitana, já observado", diz.
O construtor Antônio Coelho de Albuquerque Neto argumenta que o setor "obriga" o poder público a levar infraestrutura para locais onde o saneamento básico, por exemplo, passou longe. "A rede de esgoto deveria existir em toda a Cidade, mas só é privilégio de poucos bairros e a tendência do mercado de investir nessas áreas ajuda a elevar a qualidade de vida dos moradores locais", ressalta. Ele exemplifica a Lagoa Redonda. Ali, a construção de condomínios para a classe A levou a empresa a fazer uma estação de tratamento. "O custo da obra foi pequeno diante do valor do empreendimento", diz.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea/CE), Victor Frota, assegura que Fortaleza "inchou" e, como não existiu um disciplinamento adequado, o resultado é este conhecido por todos. "Agora é remediar o que está posto. A verticalização da Cidade não é um processo completamente ruim, se os critérios como relação entre habitantes e espaços livres forem respeitados", defende.
As cidades devem trilhar o caminho do planejamento sustentável, criando políticas governamentais, cujos programas, projetos e ações, tratem o meio ambiente através de uma concepção mais ampla de valores históricos, culturais, sociais, econômicos, paisagísticos e humanos, incorporando tecnologias limpas e adequadas. A afirmação é do arquiteto e ambientalista Nilo Nunes. Segundo ele, é imprescindível quebrar velhos paradigmas em relação ao crescimento.
Nilo defende que cada habitante deverá se tornar um personagem atuante no dia a dia da Cidade, consciente das responsabilidades e das potencialidades com relação à preservação cultural e ambiental, ao turismo sustentável e ao desenvolvimento econômico.
Novos manejos buscam equilíbrio
A exigência é do próprio mercado: construir e respeitar o meio ambiente estão cada vez mais andando juntos. A afirmação é do vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Ceará (Sinduscon/CE), André Montenegro.
De acordo com ele, as construtoras buscam novos manejos e se adaptam às novas metodologias visando readequar processos que não desperdicem tempo, recursos financeiros e matérias-primas. "O consumidor está mais exigente quanto a isso também e esse movimento é natural, então a otimização dos recursos nos canteiros e o cumprimento da legislação ambiental são palavras de ordens no mercado".
A responsabilidade social também é compromisso das empresas do setor. Tanto que projetos investem no operário com o Programa Qualidade de Vida na Construção, criado em 2003 para levar saúde, segurança, educação, capacitação, cultura e lazer aos trabalhadores da construção civil. Visa principalmente a valorização dos operários, desenvolvendo sua autoestima através de ações focadas na melhoria da qualidade de vida. Desde o início do programa, já foram beneficiados cerca de 65 mil operários.
Resultados
A Sinduscon informa que, neste tempo, foram realizadas apresentações de teatro de bonecos, oficinas, palestras, competições esportivas, mutirão para emissão de documentos, entre outras ações. Em 2012 não foi diferente, o programa alcançou resultados expressivos, com a realização de cerca de 400 oficinas. Neste ano, as ações continuam.
Além disso, as empresas ajudam entidades não governamentais. Em 2013, a Scopa Engenharia é a ganhadora do prêmio de responsabilidade social.
A Scopa foi decisiva na construção de unidades do projeto Sol Nascente, no Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU). A ONG atua com crianças e adultos soropositivos e que, negados pela família, ficam à deriva depois da alta hospitalar. As duas casas possuem boa estrutura e abrigam, com mais dignidade, essas pessoas. "A empresa é feita por seres humanos e apoiar um projeto como esse para se manter é investir em solidariedade", afirma o diretor da empresa, Marcelo Pordeus.
Para ele, o futuro já chegou e construir com sustentabilidade é investir na qualidade de vida não só daquele que adquire o imóvel como também dos moradores do entorno do empreendimento. É levar infraestrutura onde antes não existia. "São vias de acesso, escola, saúde, transporte e saneamento", pontua.
Por Lêda Gonçalves
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