Dec

05

Engenheiro urbano

Crescimento de metrópoles e de pequenas e médias cidades traz oportunidades para este novo profissional, que precisa ter olhar amplo sobre sistemas técnicos e sociais

Giovanny Gerolla

Os últimos censos demonstraram que mais de 80% da população brasileira é urbana. Moradia, transportes, drenagem, vias públicas e meio ambiente saudável são algumas das carências decorrentes do inchaço das cidades, objetos de políticas públicas de planejamento e de implementação.

Quanto maior o problema, e maior a urgência, mais necessário será o profissional capaz de integrar esses diversos fatores de infraestrutura a fim de viabilizar a tomada de decisão pronta e eficiente nos órgãos públicos, a partir de visão sistêmica, técnica, mas também humana. A cidade tem que funcionar, e, para isso, o engenheiro urbano vai ter que trabalhar.

"O grande desafio é gerenciar a cidade, local de concentração dos maiores contingentes e conflitos, não só sociais, mas também técnicos, de engenharia", avalia o engenheiro, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana na Universidade Federal de São Carlos (PPGEU/UFSCar), Ricardo Siloto da Silva. "Até então, a intervenção nesses espaços tem sido feita de forma muito segmentada - com especialistas em cada uma das áreas técnicas envolvidas; é preciso ter o profissional que amarra todos os problemas."

Assim, o engenheiro urbano concebe, desde a idealização de melhorias para as cidades e de políticas públicas, passando por projeto, planejamento, execução e gerenciamento de obras, fiscalização, até chegar à manutenção de equipamentos urbanos e sistemas técnicos. Ele trata de questões como: água, esgoto, tráfego, resíduos sólidos, áreas de preservação ambiental, trens, metrô, portos e habitação, atuando junto a órgãos públicos, mas servindo também a entes privados (muitos deles licitados), organizações não governamentais (ONGs) ou mesmo a sociedade civil organizada, tendo influência direta sobre aspectos sociais, econômicos, políticos, ambientais e, sempre que possível, tecnológicos, da sociedade.

O profissional

Acervo pessoal

Bruna Felicio
engenheira urbana e doutoranda do PPGEU - UFSCAR

Por que escolheu a engenharia urbana?
Formei-me em Engenharia Civil na UFSCar em 2003 e defendi mestrado em 2007, na mesma instituição. Este ano vou concluir o doutorado. Ambos os trabalhos tratam da questão de Áreas de Preservação Permanente em zonas urbanas. A engenharia civil me pareceu, à época, bastante abrangente, e me permite trabalhar em várias áreas.

Qual a diferença entre a Engenharia Urbana e a Civil?
A primeira é parte importante da segunda, abordando os problemas das cidades de forma sistemática, abrangente, mas também sob visão mais holística, importante na busca de soluções.

Se existisse graduação própria em Urbana, teria optado por ela?
Não, porque não vejo esta separação. Ela deixaria profissionais carentes de embasamento técnico muito importante para atuação plena da engenharia. E o engenheiro civil é um dos principais profissionais a atuar no ambiente construído, principalmente urbano e regional. Desta forma, não há como dissociar uma da outra.

Qual o maior desafio àqueles que pretendem seguir nesta área?
A complexidade dos problemas sobre os quais se debruça é seu maior desafio, assim como dotar o poder público de ferramentas para conduzir o crescimento e o desenvolvimento das cidades com justiça social e equilíbrio ambiental, principalmente porque a colocação da técnica em prática depende do jogo entre interesses conflitantes, linguagens distintas e diferentes formas de pensar e de agir. Nem generalista, nem um superespecializado, ele terá conhecimento técnico e deverá estar inserido em seu contexto social, objeto de seu trabalho e de transformações que dele decorrem.

Como fica o arquiteto-urbanista diante dessa nova figura? Eles vão concorrer no mercado?
Creio que os problemas das cidades são tão amplos e complexos que haja mercado para todos os bons profissionais, não só da engenharia e da arquitetura, mas também geógrafos, biólogos e outros que busquem soluções para esses problemas. Assim, as boas equipes de trabalho deverão ser formadas por profissionais de diversas áreas.

Quais são as atribuições práticas de um engenheiro urbano?
Já atuei como consultora na elaboração de planos diretores, de bacias, de saneamento, de macrodrenagem, de habitação de interesse social e até desenvolvimento de estudos de impacto de vizinhança. Como consultora, participei em todas as fases do projeto, desde reuniões com gestores da administração pública, visitas técnicas em campo, audiências públicas para divulgação e debate dos trabalhos, até a elaboração e redação final dos planos e estudos.

 

Currículo

Atribuições: conceber, realizar e gerenciar sistemas técnicos urbanos, infraestruturas diversas (água, esgoto, resíduos sólidos, energia, transporte), com atribuições variadas (planejamento, projeto, execução, operação, manutenção e gestão), e amplos aspectos da sociedade (econômicos, políticos, ambientais e tecnológicos).
Formação: engenharia civil/urbana.
Aptidões: especialidades da engenharia, como saneamento, transportes, geotecnia, entre outras. O profissional é capaz de fornecer subsídios para auxiliar administradores públicos nas tomadas de decisão. Além de amplo conhecimento técnico, tem de estar inserido no contexto social em que atua e quer transformar. Deve estar preparado para intermediar vários tipos de conhecimentos, pessoas e linguagens - técnicas e políticas -, balizando as tomadas de decisão que visem a melhorar os problemas urbanos e regionais.
Oportunidades de trabalho: concursos públicos para órgãos estatais em níveis municipal, estadual e federal, além de empresas prestadoras de serviços de projeto, execução, planejamento e manutenção de espaços urbanos e seus vários tipos de equipamentos.
Remuneração: R$ 5 mil, em média, nos escritórios de engenharia consultiva, podendo o valor variar muito de acordo com o porte da empresa e a sua localização.

 

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