A Casa D`Agua - O interior vai ao shopping

Nov

04

O interior vai ao shopping

Fonte: Isto É Dinheiro 
 

O empresário mineiro Eduardo Gribel, presidente da construtora e administradora de shoppings Tenco, não nega suas origens. A estratégia adotada por ele na empresa que fundou em 1988, com foco nas áreas de incorporação e construção, é a de comer pelas beiradas. A diferença é que Gribel, ao contrário do que se possa imaginar, não pretende chegar ao centro. Ele se contenta com as bordas. Mas isso não significa que seus planos sejam modestos. A Tenco especializou-se em construir e administrar shopping centers em cidades com até 250 mil habitantes.

 

Trata-se de um mercado praticamente inexplorado por suas concorrentes, que preferem as capitais ou municípios com população na casa de um milhão no mínimo. A estratégia vem garantindo bons resultados à companhia, que já possui 15 shoppings em seu portfólio, oito deles em operação. "Nossos concorrentes estão descobrindo, agora, a força da segunda maior cidade dos Estados", afirma Gribel. "Buscamos a terceira ou quarta maior cidade." E completa: "Por isso, estamos sozinhos no mercado." A Tenco está presente em localidades como Mossoró (RN), que tem 237 mil habitantes, Juazeiro do Norte (CE), com 238 mil, e Guarapuava (PR), onde vivem 142 mil pessoas.

O interior de Minas Gerais e de São Paulo e a região Norte também fazem parte dos planos da construtora. Apesar de abertos em cidades modestas em comparação às grandes capitais, os shoppings da Tenco não deixam nada a desejar. Seus empreendimentos possuem entre 25 mil e 35 mil metros quadrados de área bruta locável, medida utilizada pelo setor para determinar o potencial dos centros de compras.

O número é semelhante ao de shoppings como o VillageMall, no Rio de Janeiro, e o Vila Olímpia, em São Paulo, administrados pela Multiplan, e Jardim Sul e Villa Lobos, também na capital paulista, que pertencem à BRMalls. Baseados em cidades menores, os shoppings da empresa atendem a uma região muito maior.

"Quando se olha para uma cidade do porte daquelas em que atuamos, é preciso considerar não só o município, mas também o entorno", diz Gribel. "Como não há trânsito, as pessoas do interior não se incomodam em viajar até 100 quilômetros para passar um dia no shopping." Por essa razão, o empresário busca atuar em regiões que não tenham nenhum empreendimento do gênero. Até 2016, Gribel espera chegar a 32 shoppings em seu portfólio. Para isso, ele planeja investir R$ 2,5 bilhões. Parte dos recursos virão de um fundo criado em 2011, quando a Tenco se associou ao Pátria Investimentos, do empresário Alexandre Saigh, que conta com o fundo americano Blackstone entre seus investidores.

Nele, está depositado cerca de R$ 1 bilhão, captado no mercado financeiro. O restante será obtido por meio de financiamentos. Para definir sua estratégia, Gribel se inspirou nos números de crescimento das regiões mais afastadas das capitais brasileiras. No ano passado, o interior de São Paulo ultrapassou a região metropolitana da capital paulista e se tornou o maior mercado consumidor do País. Nos três primeiros meses deste ano, a região Nordeste foi a que apresentou o maior crescimento: 2,1%, ante 1,4% da região Sudeste, segundo o Banco Central. Esse mercado tem chamado a atenção de grandes varejistas. Antes de construir um shopping, a Tenco faz questão de garantir a presença de pelo menos uma loja da C&A, da Renner ou da Riachuelo.

Cinema e praça de alimentação com a rede de fast-food McDonald's também são obrigatórios. Neste ano, a Tenco vai adicionar três shoppings ao seu portfólio, em Betim (MG), Arapiraca (AL) e Macapá (AP). Até 2015, as cidades de Bragança Paulista (SP) e Boa Vista (RR) ganharão seus primeiros centros de compras. O faturamento da empresa deve passar de R$ 70 milhões, este ano, para R$ 90 milhões em 2014. Até o momento, Gribel enfrentou poucos obstáculos em sua estratégia. Daqui para a frente, no entanto, sua vida deve ficar mais difícil. Segundo estudo da IPC Marketing, empresa de pesquisas especializada na medição do consumo, essa tendência de interiorização do consumo tende a se desacelerar a partir deste ano, que já deve registrar um crescimento semelhante entre capitais e cidades do interior.

Por Rodrigo Caetano

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